O cavalo, que ganhou o nome de “Caramelo” e permaneceu por 24 horas equilibrado sobre um telhado, ilhado, em Canoas (RS), até ser resgatado pelos bombeiros, tornou-se um símbolo da resistência do povo gaúcho diante da tragédia climática que assolou o Estado do Rio Grande do Sul. “Caramelo” foi um dos dez mil animais resgatados por uma legião de heróis anônimos e famosos.
Com mais de 420 das 497 cidades atingidas no estado, deixando 200 mil pessoas desalojadas, 130 desaparecidas e mais de cem mortos, os prejuízos já são estimados pela Confederação Nacional dos Municípios em R$ 6,3 bilhões. O Ministério dos Transportes calculou que só a recuperação da malha rodoviária vai custar R$ 1,2 bilhão. Levantamento do Sebrae constatou que 600 mil micro e pequenas empresas foram afetadas pelas enchentes, o que representa 40% do total de 1,5 milhão de MPEs do estado.
Nesse cenário caótico, em que mal se sabe quando as águas vão baixar, toda a solidariedade é bem-vinda. E os esforços do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul, o Crea gaúcho, têm sido incontáveis. Em parceria com a Defesa Civil estadual, o Crea-RS formou uma rede de apoio às vítimas das enchentes, como poucas vezes se viu nesses 90 anos de Conselho, informa a assessoria de comunicação do Crea-RS que tem registrados 85 mil profissionais e 25 mil empresas. Até 15 de maio, o atendimento presencial está suspenso, mas o Conselho não parou de trabalhar.
Desde sexta-feira, dia 3 de maio, os carros da equipe de fiscalização do Conselho estão sendo usados para o recolhimento e entrega de donativos recolhidos pelas comunidades, na capital e interior do Estado.
Em Porto Alegre, equipes estão auxiliando no transporte de água e mantimentos para os helicópteros da Força Aérea, responsáveis pelas entregas aos municípios sem acesso por via terrestre, como Estrela, Eldorado e Caxias do Sul.
São cerca de 40 agentes fiscais que, de forma voluntária, estão empregando os veículos oficiais para dar suporte nas cidades em que o Crea-RS tem 44 Inspetorias.
Uma das histórias mais comoventes foi a vivida pelo inspetor-tesoureiro André Rodrigues, engenheiro civil que atua em Esteio, que fica na Região Metropolitana de Porto Alegre, a cerca de 20 quilômetros da capital gaúcha. Ele pilotou um barco, liderando uma equipe de voluntários no resgate de vítimas das enchentes naquela cidade que em julho de 2022 recebeu o título de Capital Nacional da Solidariedade. O vídeo com essa história está no perfil do Crea-RS no Instagram (@crea.gaucho).
Na terça-feira, dia 7, o presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Vinicius Marchese, em conjunto com a presidente do Crea-RS, Nanci Walter, encaminhou ofício ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Além de expressar solidariedade diante da tragédia que assola o estado, o documento oficializa a disposição do Sistema Confea/Crea em contribuir com a reconstrução do Rio Grande do Sul, oferecendo apoio técnico essencial para restaurar as condições necessárias para a população.
“Colocamos o Sistema Confea/Crea à disposição para a reconstrução que vai demandar suporte técnico e isso pode dar muita velocidade para restabelecer as condições do nosso Rio Grande do Sul. Na hora que julgar necessário, a gente consegue subsidiar o custeio de profissionais para o auxílio desse restabelecimento, montando uma força-tarefa nacional com profissionais que estejam dispostos a contribuir para essa reconstrução”, anunciou o presidente Marchese.
Por meio de seu site (https://www.crea-rs.org.br), o Crea-RS já lançou uma campanha de recrutamento de engenheiros voluntários para atuar na reconstrução do Rio Grande do Sul. Segundo o site do Crea-RS, o credenciamento possibilitará que o profissional voluntário, nos municípios mais atingidos, possa utilizar as Anotações de Registro Técnico (ART) com taxa a custo zero, assim como em casos específicos para o setor público, que estão envolvidos direta e indiretamente na reconstrução das rodovias e pontes. Neste primeiro momento, a prioridade é salvar vidas, na próxima etapa entra o conhecimento técnico a serviço da reconstrução.
Procurada pela nossa reportagem, a presidente do Crea-RS, engenheira ambiental Nanci Walter, em seu segundo mandato, confirmou que “a situação do Rio Grande do Sul é preocupante” e que será preciso reconstruir praticamente todo o estado: “Cidades precisarão ser feitas do zero”, afirmou a engenheira, que tem trabalhado incansavelmente.
“Vamos precisar reconstruir rodovias, pontes. Cidades precisarão ser refeitas do zero. E para além disso, vamos precisar pensar em como e onde reconstruí-las. Serão necessárias uma força-tarefa e um empenho técnico-científico no qual os nossos profissionais estão diretamente envolvidos. Não poderemos medir esforços”, disse a presidente do Crea-RS, destacando a importância do apoio do Confea e dos Creas que puderem ajudar.
A presidente do Crea-RS, Nanci Walter, manifestou também a “mais profunda gratidão, reconhecimento e orgulho” a todos os fiscais do Conselho, que estão nas ruas, de forma voluntária, ajudando em resgates e na arrecadação de donativos para serem entregues nos pontos de coleta distribuídos pelo Rio Grande do Sul.
O Crea-RJ, por sua vez, tem manifestado toda a solidariedade ao povo gaúcho e ao Crea-RS. Além de comunicado publicado no site, o presidente do Crea-RJ, engenheiro Miguel Fernández, pediu um minuto de silêncio em apoio ao povo do Rio Grande do Sul, durante a plenária do Conselho realizada na segunda-feira, dia 6, na sede da entidade, na Rua Buenos Aires 40, no Centro do Rio. A plenária estava lotada e o silêncio foi absoluto.
O presidente do Crea-RJ, Miguel Fernández, afirmou que “a engenharia será fundamental para a recuperação do Rio Grande do Sul e que o Conselho do Rio de Janeiro está à disposição para ajudar:
“Estamos defendendo o apoio máximo às vítimas, garantindo que elas possam ter todo o suporte para resgate. Tenho mantido contato com a presidente Nanci, que tem me informado sobre a situação. Esse foi o primeiro momento. Agora entra um segundo momento, que é o de garantir que essas pessoas possam ter uma infraestrutura para enfrentar esse momento que ainda é conturbado, com os rios em níveis muito acima das máximas históricas, até que se possa, aí sim, entrar com a engenharia”, afirmou Miguel, ressaltando que a “engenharia será fundamental para a recuperação do Rio Grande do Sul”:
“Passado esse período de trabalho da Defesa Civil, vamos precisar de um esforço imenso do setor das engenharias e pode ter certeza de que o Crea-RS tem um protagonismo importante e vai contar com o apoio de todos os outros Crea para apoiá-la nesse momento. A engenharia será fundamental para a recuperação do estado do Rio Grande do Sul. O Crea-RJ, alinhado com o Crea-RS, seja no apoio das ações de solidariedade junto à Defesa Civil, vai ajudar. Se for necessário algum outro tipo de ação para suporte, estamos à disposição para fazer”, destacou o presidente do Crea-RJ.