Aos cinco anos de idade, em 1948, o pequeno Helio Suêvo pegava o trem para passear na casa da família, em Muriqui, na Costa Verde fluminense. Essas viagens de trem acabaram entrando na memória afetiva de Helio, que menos de três décadas depois se formava em Engenharia e começava a trabalhar na Rede Ferroviária Federal, como engenheiro estagiário. O ano em que concluiu o curso na Escola Nacional de Engenharia também o marcou por causa de um dos maiores acidentes ferroviários do Rio, o da estação de Magno, perto do subúrbio de Madureira, que matou mais de 30 pessoas e deixou duas centenas de feridos.
– Com o acidente, o então presidente Geisel demitiu toda a diretoria da Rede Ferroviária, colocando um general como interventor – lembra Helio Suêvo, que hoje é vice-presidente da Associação de Engenheiros Ferroviários (Aenfer).
A Aenfer comemora nesta terça os 170 anos da ferrovia no Brasil. Autor do livro “A Formação das Estradas Ferro no Rio”, Helio Suêvo é uma espécie de guardião da memória das ferrovias no Brasil. Ele está escrevendo um novo livro, agora sobre o ramal de Mangaratiba, o trem de sua infância.
O primeiro emprego de Helio foi na Estrada de Ferro Leopoldina. Depois de formado, ele fez um curso de especialização em Engenharia Ferroviária. Trabalhava de dia como engenheiro estagiário e estudava à noite. Um ano depois, passou a exercer o cargo de engenheiro ferroviário residente em Mangaratiba, a 105 quilômetros do Rio.
– Eu comecei a andar de trem para aquela região com apenas cinco anos de idade. Alguns trens ainda tinham locomotiva a vapor. Nunca poderia imaginar que anos depois trabalharia na Rede Ferroviária Federal (estatal que foi privatizada em 1999) – conta Helio Suêvo.
Com a família, ele andou até de Macaquinho, o trem de madeira que saía da Estação de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, em direção à Costa Verde. Mais tarde, Suêvo foi o responsável pela interdição da ponte do Canal de São Francisco, que acabou resultando na extinção do Macaquinho, por pressão das empresas de trens de carga.
Aposentado desde 2004, Helio Suêvo é hoje consultor de Engenharia Ferroviária. Por 29 anos, ele acompanhou boa parte da história das ferrovias no Brasil.
– A ferrovia é um brinquedo muito caro e no Brasil deixou de ser uma política de estado para ser uma política de governos – observa o engenheiro.
Enquanto Estados Unidos, Rússia e China mantêm ativa sua rede ferroviária, o Brasil passou de 38 mil quilômetros de ferrovia, em 1957, para, no máximo, 31 mil hoje, dos quais 29 mil quilômetros estão sob concessão de seis empresas de carga. Suêvo lembra que a redução das ferrovias começou por volta de 1957 no governo Juscelino Kubitschek, sob a pressão da indústria automobilística americana. Os Estados Unidos, entretanto, investiu nas rodovias, mas ainda mantêm 280 mil quilômetros de ferrovias. Enquanto isso, a China – a segunda economia do mundo – lidera o segmento de trens de alta velocidade (350 Km/hora) com uma rede ferroviária de 40 mil quilômetros, de um total de 150 mil quilômetros de ferrovias.