Irmãos Rebouças e o legado para o desenvolvimento e a liberdade no Brasil

O dia 9 de maio marca a data de morte do engenheiro André Rebouças (1838-1898), um dos profissionais mais respeitados de sua época, por seu trabalho em melhorias de infraestrutura para o desenvolvimento do país.

André Rebouças (1838-1898) foi um engenheiro militar, abolicionista e inventor que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da infraestrutura do Brasil. Ele foi um dos pioneiros no campo da Engenharia no país e contribuiu significativamente para projetos de modernização, como a construção de estradas de ferro, pontes e sistemas de abastecimento de água. Sua habilidade técnica e visão progressista o tornaram uma figura influente na corte imperial brasileira, onde foi consultor do imperador Dom Pedro II.

André era irmão de Antônio Frederico de Castro Alves Rebouças (1839-1888), um importante poeta e abolicionista, frequentemente considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XIX, conhecido por sua poesia lírica e engajada, especialmente em temas relacionados à liberdade, justiça social e luta contra a escravidão. Suas obras, como "Espumas Flutuantes" e "Os Escravos", refletem sua profunda preocupação com as questões sociais e sua crença na emancipação dos oprimidos.

Os irmãos Rebouças, Antônio Frederico de Castro Alves Rebouças e André Rebouças, foram figuras proeminentes na história do Brasil do século XIX. Ambos nasceram em uma família abastada na Bahia, durante um período crucial de transformações sociais e políticas no Brasil, marcado pela abolição da escravidão e pela transição para a República.

O engenheiro André Rebouças

Rebouças formou-se na Escola Militar da Bahia e posteriormente aprimorou seus conhecimentos na França e na Inglaterra, onde teve a oportunidade de estudar as mais recentes técnicas e tecnologias em Engenharia.

Uma das áreas em que teve ação significativa foi no campo das ferrovias. Ele foi responsável por projetar e supervisionar a construção de várias linhas férreas importantes, que eram essenciais para o transporte de mercadorias e passageiros em um país vasto e diversificado como o Brasil. Seu trabalho incluiu a concepção da Estrada de Ferro Central do Brasil, uma das principais vias férreas do país na época, que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais.

Além das ferrovias, Rebouças também foi fundamental na construção de pontes e sistemas de abastecimento de água em várias cidades brasileiras. Sua experiência em Engenharia hidráulica foi especialmente valiosa para garantir o fornecimento de água potável para áreas urbanas em rápido crescimento.

Rebouças, entretanto, não se limitou apenas a projetos de infraestrutura. Ele também foi um defensor do uso de tecnologias inovadoras para promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Como inventor, ele registrou várias patentes, incluindo um processo para fabricação de tijolos de concreto mais baratos e duráveis, que poderiam ser amplamente utilizados na construção civil.

Além de suas realizações técnicas, Rebouças também desempenhou um papel importante como conselheiro do imperador Dom Pedro II, oferecendo conselhos sobre questões de Engenharia e infraestrutura. Sua influência na corte imperial contribuiu para a adoção de políticas que incentivavam o desenvolvimento de projetos de infraestrutura em todo o país.

Irmãos abolicionistas

Os irmãos André e Castro Alves desempenharam papéis cruciais na luta pela abolição da escravatura no Brasil, contribuindo de maneiras distintas, porém complementares, para o movimento abolicionista do século XIX.

André Rebouças, além de suas realizações como engenheiro, destacou-se como um abolicionista fervoroso. Ele usou sua influência e posição privilegiada na sociedade para advogar pela emancipação dos escravos. Dedicou tempo, recursos e energia para promover a causa abolicionista, participando ativamente de sociedades e movimentos que buscavam acabar com a escravidão. Sua habilidade técnica e sua reputação respeitada também o tornaram uma voz respeitada entre os líderes políticos e sociais da época, ampliando o alcance de suas atividades pela abolição.

Por outro lado, Castro Alves produziu uma série de poemas, discursos e manifestos abolicionistas ao longo de sua carreira, usando sua plataforma literária para promover a causa da liberdade e da igualdade. Seus escritos influenciaram profundamente o movimento abolicionista no Brasil, inspirando ativistas e intelectuais a se engajarem na luta pela emancipação dos escravos. Dois de seus poemas, "Navio Negreiro" e "O Hino do Carnaval", tiveram impacto profundo na consciência pública e contribuíram para despertar um senso de urgência em relação à abolição.

"Navio Negreiro", uma denúncia poderosa da barbárie da escravidão, ressoou intensamente entre os leitores da época e continua a ser estudado e reverenciado até hoje como um marco na literatura abolicionista. O poema descreve de forma vívida e angustiante as condições desumanas enfrentadas pelos escravos durante a travessia do Atlântico. Já "O Hino do Carnaval" celebra a liberdade e a igualdade, contrastando vividamente a alegria e a festividade do carnaval com a tristeza e a opressão dos escravos. O poema exalta a beleza da liberdade e a necessidade de justiça social, chamando atenção para as contradições de uma sociedade que celebra a diversão e a frivolidade enquanto tolera a injustiça e a desigualdade.

Os irmãos Rebouças trabalharam em conjunto, complementando as habilidades um do outro e ampliando o alcance de sua mensagem abolicionista. Enquanto André utilizava sua influência e conhecimento técnico para influenciar políticas e liderar iniciativas práticas, Castro Alves empregava seu talento literário para sensibilizar as massas e inspirar a ação popular. Suas contribuições combinadas foram essenciais para promover a causa da abolição e para mobilizar a sociedade brasileira contra a instituição da escravidão, demonstrando a importância de diferentes formas de engajamento na luta pelos direitos humanos.

Merecida homenagem

Uma das principais vias de passagem do Rio de Janeiro, que liga as Zonas Sul e Norte da cidade através do maciço da Tijuca, recebeu seu nome em homenagem aos irmãos André e Antônio Rebouças. O Túnel Rebouças, projetado pelo engenheiro Antônio Russell Raposo de Almeida e inaugurado em 1967, possui 2,8 quilômetros de extensão e é uma das mais importantes obras de infraestrutura do município.

Para além da melhoria da mobilidade urbana, a construção do Túnel Rebouças foi uma conquista significativa da Engenharia da época, já que enfrentou uma série de desafios técnicos e logísticos, como uma Geologia complexa, incluindo rochas duras, formações geológicas instáveis e água subterrânea, o que exigiu técnicas sofisticadas para escavação e estabilização; e a escavação em ambiente urbano, densamente povoado, unida à gestão do tráfego durante a construção.

Apesar dos desafios, a conclusão bem-sucedida do Túnel Rebouças demonstrou a capacidade da Engenharia brasileira em enfrentar e superar obstáculos. Uma homenagem à altura dos irmãos que também marcaram a história e o desenvolvimento do Brasil.

O Crea-RJ exalta a importância da contribuição do engenheiro André Rebouças para a história da Engenharia nacional e do Brasil, por seu posicionamento e sua luta pela abolição da escravatura e pelo desenvolvimento e promoção da igualdade na sociedade. O Conselho homenageia esse grande profissional, buscando espelhar-se em seu trabalho, promovendo a excelência na Engenharia e apregoando a justiça social.

Irmãos Rebouças e o legado para o desenvolvimento e a liberdade no Brasil