O Dia do Ferroviário é comemorado em 30 de abril. A escolha da data está ligada a um importante momento histórico brasileiro. Na mesma data, em 1854, a locomotiva "Baroneza" inaugurou a primeira ferrovia brasileira, ligando Guia de Pacobaíba, em Porto Mauá, a Fragoso, em Magé, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. A locomotiva possuía sete metros e meio de comprimento, 2,5 metros de largura e 3,40 de altura, pesando cerca de 17 toneladas. Possuía duas chaminés, um farol e dois estribos.
A viagem inaugural, que teve um percurso de 14,5 km e contou com a presença do Imperador Dom Pedro II, representou o início de uma jornada que ajudaria a moldar o Brasil.
A estação de Fragoso foi escolhida como terminal após estudos do engenheiro inglês William Bagge. Por conta de sua proximidade da Raiz da Serra, era o local mais adequado para receber as mercadorias e embarcá-las nos trens que seguiam até o Porto de Mauá, onde eram transferidas para navios a vapor e exportados para vários países. A chegada da ferrovia à cidade de Petrópolis, transpondo a Serra do Mar, aconteceu somente 29 anos depois, em 1883.
Inspirado por suas viagens à Europa, onde presenciou o desenvolvimento das ferrovias, Irineu Evangelista de Sousa, um importante industrial, banqueiro e político brasileiro - o Barão de Mauá, idealizou uma linha férrea que, inicialmente, transportaria a Família Imperial ao clima ameno de Petrópolis. A malha ferroviária rapidamente se expandiu, principalmente no Sudeste, para facilitar o escoamento da produção cafeeira da Região Serrana fluminense para o Porto do Rio, impulsionando a urbanização e a integração das regiões produtoras.
A ideia na prática
A construção da Estrada de Ferro Mauá enfrentou diversos desafios, desde a importação de materiais e locomotivas da Inglaterra até a necessidade de escavação de túneis e construção de pontes em terrenos acidentados da Serra dos Órgãos. Para financiar a obra, Mauá utilizou recursos próprios e contraiu empréstimos com bancos ingleses. A mão de obra era composta por cerca de 2 mil trabalhadores, divididos entre escravos, libertos e imigrantes europeus, principalmente alemães e italianos. As condições de trabalho eram precárias, com longas jornadas e altos índices de acidentes.
A ferrovia foi construída com tecnologia de ponta para a época, utilizando trilhos de bitola larga (1,676m) e locomotivas a vapor importadas inglesas. A linha férrea contava com 14,5 km de extensão, incluindo 4 túneis e 17 pontes, algumas com estruturas metálicas inovadoras para a época.
Breve histórico
Durante a República Velha (1889-1930), a expansão da malha ferroviária continuou, impulsionada pela política de "encilhamento". O governo concedia subsídios para a construção de ferrovias, visando a integrar o país e estimular o desenvolvimento econômico. Ferrovias como a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, construída em meio à selva amazônica, marcaram esse período.
Já durante a era Vargas (1930-1945), o Estado assume um papel central na economia e as ferrovias são nacionalizadas e integradas na Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). O foco se volta para o transporte de cargas, impulsionando a industrialização e a integração nacional.
A partir da década de 1960, as ferrovias brasileiras entraram em declínio. A priorização do transporte rodoviário e a falta de investimentos públicos resultaram na descapitalização e sucateamento da malha ferroviária. Nos últimos anos, o financiamento da recuperação das ferrovias brasileiras tem marcado o debate sobre o transporte e o desenvolvimento nacional. Novas tecnologias e investimentos em infraestrutura visam a modernizar o setor e aumentar sua eficiência.
O papel da Engenharia
O desenvolvimento das ferrovias no Brasil está diretamente ligado às áreas abrangidas pelo Sistema Confea/Crea e Mútua. Desde a idealização e planejamento até a construção e operação, os profissionais dessas áreas tiveram papel preponderante para a implementação desse modal no país.
No século XIX, a infraestrutura de locomoção pela vasta extensão territorial brasileira era precária. Para a implantação das ferrovias, foi necessário superar desafios geográficos, por meio de mapeamento e topografia, já que conhecer o terreno era essencial para definir o traçado ideal das ferrovias, levando em conta fatores como declives, cursos d'água e obstáculos naturais. Além disso, a construção de pontes, túneis para transpor rios, montanhas e outras barreiras naturais e a terraplenagem e os cortes de terra para a instalação dos trilhos foram fundamentais para a viabilidade das ferrovias. Da mesma forma, as condições climáticas do Brasil, como chuvas intensas e temperaturas elevadas, e planejamento dos traçados em território tão específico exigiram soluções inovadoras para garantir sua segurança e a durabilidade.
Crea-RJ comemora e alerta
Desde o século XIX, engenheiros dedicaram seu talento e conhecimento para a concepção, planejamento e construção das ferrovias, conectando cidades, estados e regiões, encurtando distâncias e impulsionando o transporte de pessoas e mercadorias. Esse modal desempenhou um papel crucial no fortalecimento da economia, na expansão do comércio e na formação de um país cada vez mais integrado.
Na celebração dos 170 anos, o Crea-RJ parabeniza todos os Engenheiros Ferroviários que, ao longo da história, contribuíram para o desenvolvimento das ferrovias no Brasil. Que esse possa ser um momento de reflexão sobre a importância de valorizar e incentivar investimentos nesse significativo meio de transporte para o progresso e a unificação do país.
Aenfer mobiliza setor nos 170 anos
A Associação de Engenheiros Ferroviários – Aenfer e o Trem do Corcovado, em parceria com a Abifer, realizarão eventos para comemorar os 170 anos da Primeira Ferrovia do Brasil, dia 30 de abril, às 10 horas, na sede da Aenfer e dia 10 de maio, no Centro Cultural do Trem do Corcovado.
Na ocasião, os convidados conhecerão um pouco da história, contada pelo vice-presidente da Aenfer, engenheiro Helio Suêvo. Também haverá a apresentação do Coral “Som Bonde Carioca”, o lançamento de selo comemorativo e o descerramento de uma placa em alusão aos 170 anos de ferrovias no Brasil.
Além dessa programação, a Aenfer juntou-se às empresas Supervia, Metrô, VLT e Central (Bonde de Santa Teresa) para promover um apitaço, onde os maquinistas irão apitar os trens no mesmo horário, às 13 horas.