A gigante da Engenharia nacional completa 50 anos

O aniversário de 50 anos da Ponte Rio-Niterói representa um marco significativo na história não apenas do Rio de Janeiro e de Niterói, mas também do Brasil como um todo. Inaugurada em 4 de março de 1974, a icônica estrutura de 13,29 quilômetros de extensão é muito mais do que apenas uma ligação física entre as duas cidades - é um símbolo de progresso, integração e desenvolvimento.

Batizada como Ponte Presidente Costa e Silva - presidente durante a ditadura militar brasileira que deu a ordem para sua construção - a ponte foi construída para atender à crescente demanda por uma conexão eficiente entre a capital fluminense e sua vizinha na região metropolitana. Antes, era necessário percorrer cerca de 120km em estradas ou optar pelo uso de balsas. A escolha do traçado, que liga a Ponta do Caju (Rio de Janeiro) à Avenida do Contorno (Niterói), considerou o menor impacto no tráfego marítimo, o menor custo total e a ligação aos subúrbios cariocas.

Considerado um projeto audacioso, por sua magnitude, a Ponte Rio-Niterói foi uma conquista impressionante da Engenharia brasileira. Construída em pouco menos de seis anos, foi considerada, na época, a segunda maior ponte do mundo, perdendo apenas para a Ponte do Lago Pontchartrain, nos Estados Unidos. Tem 8,83km de sua extensão sobre a água, 72m de altura em seu ponto mais alto e vão central de 300m. É considerada, atualmente, a sexta maior ponte do mundo, a segunda mais extensa da América Latina, a maior ponte em concreto protendido do hemisfério sul, além de possuir o maior vão livre em reta contínua construído no mundo e o maior conjunto de estruturas protendidas da América. 

Projeto
A ideia do projeto de ligação entre os municípios remonta a 1875, mas somente em 1965, foi criada uma comissão executiva para cuidar do projeto definitivo de construção. Costa e Silva assinou decreto em 23 de agosto de 1968, autorizando o projeto de construção da ponte, idealizado pelo ministro dos transportes, Mário Andreazza, sob a gestão de quem a ponte foi iniciada e concluída.

O projeto da ponte Rio-Niterói foi preparado por um consórcio: a Noronha Engenharia, sediada no Rio de Janeiro, que preparou o projeto dos acessos no Rio de Janeiro e em Niterói, assim como a ponte de concreto sobre o mar; e a Howard, Needles, Tammen and Bergendorf, dos EUA, projetou o trecho dos vãos principais em estrutura de aço, incluindo as fundações e os pilares. Os engenheiros responsáveis pelo projeto da ponte de concreto foram Antônio Alves de Noronha Filho e Benjamin Ernani Diaz e o engenheiro responsável pela ponte de aço foi o americano James Graham. As executoras da superestrutura em aço foram Dormann & Long, Cleveland Bridge e Montreal Engenharia.

Um dos principais desafios enfrentados pelos engenheiros foi o próprio local da construção. A Baía de Guanabara é conhecida por suas águas profundas e correntes fortes, o que exigiu um projeto robusto e resistente para garantir a estabilidade da estrutura. Além disso, a ponte precisava ser alta o suficiente para permitir a passagem de navios de grande porte, o que exigiu torres imponentes e uma extensão adequada.

O projeto final da Ponte Rio-Niterói consiste em uma estrutura de concreto armado apoiada por pilares de sustentação maciços, com um vão central que permite a passagem de navios. As torres de sustentação são fundamentais para a estabilidade e integridade da ponte, suportando o peso da estrutura e distribuindo as cargas de maneira eficiente.

Além da própria estrutura física da ponte, o projeto também envolveu considerações detalhadas sobre o tráfego, incluindo o número estimado de veículos que utilizariam a ponte diariamente, as velocidades de viagem esperadas e as necessidades de segurança. Isso influenciou o design das pistas, das rampas de acesso e das medidas de controle de tráfego implementadas.

Construção
A obra teve início simbólico, em 9 de novembro de 1968, com a presença da Rainha do Reino Unido, Elizabeth II, e de Sua Alteza Real, o Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo, ao lado do ministro Mário Andreazza, mas as obras tiveram início realmente em janeiro de 1969. O canteiro principal se localizava na Ilha do Fundão, pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro, havendo, também, canteiros secundários em Niterói. A estrutura de aço foi toda fabricada na Inglaterra em módulos, que chegaram ao Brasil por transporte marítimo. Sua fabricação final, com os elementos pré-soldados da Inglaterra, foi feita na Ilha do Caju, na Baía de Guanabara.

Em 1971, o contrato para construção da ponte foi rescindido devido a atraso nas obras, e a construção passou a ser feita por um novo consórcio formado pelas construtoras Camargo Correa, Mendes Junior e Construtora Rabello. 

A ditadura militar brasileira registrou 33 mortes durante o processo de construção da ponte, embora algumas estimativas cheguem a cerca de 400 óbitos, sendo que alguns dos corpos teriam supostamente sido 'sepultados' no concreto dos pilares, visto que não havia tempo para resgates. 

Eixo de mobilidade
Ao longo de suas cinco décadas de existência, a ponte testemunhou transformações significativas na paisagem urbana e na vida das pessoas que dependem dela diariamente para suas atividades cotidianas. Com a explosão econômica e demográfica, foi fundamental a necessidade de reformulações para atender o movimento médio diário de cerca de 150 mil veículos.

A questão da mobilidade, tráfego e congestionamentos na Ponte Rio-Niterói tem sido um desafio constante ao longo dos anos, afetando não apenas a eficiência do transporte, mas também a qualidade de vida dos usuários da ponte.

Para lidar com esses desafios, foram implementadas várias soluções ao longo do tempo, como a ampliação da capacidade viária, ampliando de três para quatro faixas de rolamento; a melhoria na gestão de tráfego, por meio de tecnologias com sistemas de controle de semáforos, monitoramento por câmeras e sinalização inteligente; controle de velocidade para minimização de acidentes; e automatização de faixas de pedágio.

Ainda assim, as dificuldades permanecem e soluções como a construção de uma nova ponte, de uma linha de metrô ou a implementação de linhas marítimas para a ligação de mais cidades da Baía de Guanabara continuam a ser estudadas.

Manutenção
O dia-a-dia das ações de manutenção da estrutura da Ponte Rio-Niterói envolve uma série de atividades meticulosas e contínuas para garantir a segurança, integridade e funcionamento adequado da ponte. Estas atividades são realizadas por equipes especializadas de engenheiros, técnicos e operários, que trabalham de forma constante para monitorar, inspecionar e realizar reparos conforme necessário.

Inspeções regulares: são realizadas inspeções visuais e estruturais em toda a extensão da ponte para identificar qualquer sinal de desgaste, corrosão, danos ou outros problemas potenciais. Isso pode incluir o uso de drones, equipamentos de acesso por corda e outras tecnologias avançadas para alcançar áreas de difícil acesso.

Testes de carga: testes de carga são conduzidos periodicamente para avaliar a capacidade de carga da ponte e garantir que ela esteja dentro dos padrões de segurança estabelecidos. Isso envolve a aplicação de cargas estáticas e dinâmicas em diferentes pontos da estrutura para verificar sua resposta e comportamento.

Manutenção preventiva: são realizadas atividades de manutenção preventiva, como limpeza de drenos, lubrificação de partes móveis, pintura anticorrosiva e substituição de componentes desgastados. Essas medidas visam prolongar a vida útil da ponte e evitar problemas mais graves no futuro.

Reparos e reforços: quando necessário, são realizados reparos e reforços na estrutura da ponte para corrigir danos, fissuras ou corrosão. Isso pode envolver a substituição de seções danificadas, o reforço de pilares ou vigas, e a aplicação de materiais de reparo e proteção.

Monitoramento contínuo: sistemas de monitoramento contínuo são instalados em toda a ponte para acompanhar em tempo real o comportamento estrutural, a movimentação e as condições ambientais. Isso permite detectar precocemente quaisquer anomalias ou problemas emergentes que possam exigir intervenção imediata.

O Crea-RJ parabeniza todos os profissionais do Sistema Confea/Crea e Mútua que ao longo dessas cinco décadas trabalharam nesse que é um dos maiores feitos da Engenharia do Brasil e do mundo!

Leia mais sobre as ações de manutenção realizadas por ocasião do 50 anos.

 

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