Presidente do Crea-RJ defende que engenheiros pressionem mais políticos para lidar com questões como a da habitação popular

Em entrevista ao podcast Vozes da Engenharia, do site Metrópoles, num estúdio montado na 79ª SOEA, em Salvador, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ), engenheiro Miguel Fernández, defendeu que o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) deve buscar influenciar os tomadores de decisão política para enfrentar a questão da habitação social no país.

“A questão da habitação popular é um desafio do poder público, mas deve ser cada vez mais uma agenda do Confea para influenciar e se envolver nas tomadas de decisões políticas. A habitação social passa pela lógica do poder político e nós, profissionais da Engenharia, temos cada vez mais que pressionar os órgãos tomadores de decisão para levar uma infraestrutura básica para essa população”, afirmou o presidente do Crea em entrevista à jornalista Natália André, do Metrópoles, um dos sites jornalísticos que mais crescem no país, atingindo 6,4 bilhões de visualizações no mês passado. A entrevista tratou de temas relevantes, como habitação popular, problemas urbanos e desenvolvimento sustentável na Engenharia.

A repórter Natália André, do podcast Vozes da Engenharia, entrevista o presidente do Crea-RJ

Indagado sobre exemplos de projetos de habitação social bem-sucedidos, o presidente do Crea-RJ voltou a lembrar da experiência do Conjunto Habitacional da Cruzada São Sebastião, que foi lançado em 1955 pelo então secretário-geral da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), dom Hélder Câmara. O conjunto de dez prédios e 945 apartamentos foi financiado num prazo de 15 anos. Os primeiros moradores eram procedentes da Favela da Praia do Pinto, que viria a sofrer um incêndio em 1969. 

“Esse conjunto habitacional está hoje numa das áreas mais valorizadas, com o IPTU mais caro do Rio, formada pelos bairros de Leblon, Ipanema e Lagoa. Foi um projeto de Engenharia  e de Urbanismo que trouxe uma solução para aquele ambiente. Então ali tem uma dignidade. Tem desafios de segurança pública, tem coisas que precisam melhorar, tem toda a lógica de gentrificação também, que é a expulsão dessa galera que às vezes não consegue ter capacidade para morar, mas se você fizer um projeto pensando no todo, com escala adequada, é possível conseguir soluções para isso”, afirmou Fernández, que é engenheiro civil com mestrado em Engenharia Urbana.

Ele afirmou considerar que “a remoção é algo que não se dá para pensar em pleno século XXI, mas a transformação também não pode ser no modelo que já está aí hoje, sendo pautado reiteradamente, como é o caso do favela-bairro, que é o modelo do ONU Habitar, de transformar uma favela num bairro, mas que o resultado prático na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, tem sido de ampliação das favelas, década após década, pelo censo, e não a retração. Então temos que pensar em novos modelos, novas estratégias, e esse é um problema que os países desenvolvidos já viveram e resolveram”, defende Miguel. 

O presidente do Crea-RJ está convencido de que a questão da habitação popular é uma das mais importantes do país, sobretudo para reduzir as desigualdades sociais.

“Nós temos um déficit habitacional gigantesco no país. É um déficit que transforma as cidades em um problema muito sério de favelização e isso se desdobra em problemas de segurança pública, de desenvolvimento social e de saúde pública. Então, é algo que, por meio da Engenharia e do Urbanismo, nós podemos corrigir diversas outras áreas correlatas”, defende Fernández.

Ainda segundo ele, a questão da habitação popular tem dois grandes problemas: a questão fundiária, que precisa ser regularizada para garantir aos moradores a propriedade da terra; e a questão da mobilidade urbana.

“Você precisa ter um dos grandes pontos de desafio nos grandes centros urbanos, como é o caso da cidade do Rio de Janeiro, da capital, o tempo de deslocamento e a qualidade desse transporte público. Então, acaba tendo os aglomeramentos de favelas nas encostas de morro para garantir um menor deslocamento. Então, você tem que pensar em soluções que envolvam também essa questão da mobilidade urbana”, afirmou o presidente do Crea-RJ.

 

Presidente do Crea-RJ defende que engenheiros pressionem mais políticos para lidar com questões como a da habitação popular