Novembro é o mês de conscientização mundial pelo cuidado e pela luta contra o câncer de próstata, assim como o combate à desinformação e aos tabus em relação ao tema. A data ficou marcada devido ao movimento realizado em 2003, na Austrália, para alertar a população a respeito da doença que acomete os homens, principalmente em idade mais avançada, e a importância do seu diagnóstico.
No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) publicados na Estimativa 2023 - Incidência de Câncer no Brasil, 71.730 mil homens terão câncer de próstata por ano até 2025 e, a cada 38 minutos, um homem morre por esse tipo de câncer. Como também é demonstrado na pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), apenas 46% da população masculina acima de 40 anos procuram ajuda médica quando sentem algum sintoma e esse número sobe para 58%, quando estes só utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS). Eles atribuem à rotina estressante e à falta de tempo na rotina para cuidar do seu bem-estar.
Porém, como a sociedade brasileira, especialmente, é marcada pelo machismo, o qual é diretamente prejudicial para homens, esse fator também os impede de procurar um médico para os exames periódicos e até mesmo de falar sobre o assunto na roda de conversa com amigos, devido aos estereótipos do que é ser homem. O que pode ser confirmado com a pesquisa realizada pela ONU Mulheres em parceria com o Grupo Boticário e o portal Papo de Homem em 2016, ao mostrar que 81% dos homens entrevistados concordam que o Brasil é ainda um país machista e que 66,5% não falam sobre seus medos e sentimentos no geral, mas esses 45% gostariam de ter mais proximidade com os outros.
O câncer de próstata
A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino, localizada abaixo da bexiga e à frente do reto, aproximadamente do tamanho de uma ameixa, e é responsável por produzir um líquido alcalino que compõe parte do sêmen, nutrindo os espermatozoides para que sejam saudáveis e funcionais na fecundação. Ele também é responsável por separar a saída da urina e da ejaculação.
O câncer de próstata é quando essas células começam a se multiplicar de forma descontrolada, gerando tumores que podem ser benignos ou malignos. Como o seu desenvolvimento ocorre de forma lenta, no começo não há o aparecimento de sintomas Contudo, ao longo do tempo podem surgir dores ao urinar, idas mais vezes ao banheiro, já que passa a existir a sensação de estar sempre com a bexiga cheia, e, em casos mais graves, até o aparecimento de sangue na urina.
Fatores de risco
Homens a partir de 50 anos são parte do grupo que merece prestar atenção na saúde da próstata. De acordo com o Inca, a cada dez homens com o diagnóstico de câncer de próstata, nove têm mais de 55 anos. Homens negros também tem mais chances de ser diagnosticados com a doença.
A pesquisa sobre o câncer de próstata em homens negros, publicada pela revista científica Jama Network em 2020, mostra que 60% a 80% da população negra nos Estados Unidos recebem diagnósticos com estágios avançados do câncer. Apesar de ainda estar sendo estudada se essa maior incidência pode ter causas genéticas (mais sensíveis à ação da testosterona, por exemplo), as desigualdades econômicas, raciais e sociais são os principais fatores apontados, já que existe a dificuldade em acessar sistemas de saúde, educação e a falta de políticas públicas voltada a esses homens.
Mais alguns fatores podem aumentar o risco de câncer de próstata como:
- Histórico na família, no caso o pai ou irmão ou tio que tiveram a doença. Nesta situação, é recomendada a ida ao urologista a partir de 45 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU);
- Sobrepeso e obesidade, com a realização de uma dieta rica em gorduras e carboidratos em excesso. Ao alterar o correto funcionamento do metabolismo, pode acarretar alterações moleculares, levando à formação de neoplasia (tecido anormal que surge no corpo, um possível câncer - todo câncer é uma neoplasia mas nem toda neoplasia é um câncer);
- Ter o hábito de fumar;
- Sedentarismo.
Sintomas
Os sintomas do câncer de próstata não são evidentes no começo de seu desenvolvimento, por isso a importância de consultar o urologista regularmente e realizar os exames. Ao fazer o diagnóstico na sua fase inicial, é possível a cura. Mas, em seu estágio mais avançado, esses são os sintomas que merecem atenção:
- Diminuição do jato da urina, tornando-se cada vez mais fraco;
- Dificuldades em começar e de terminar de urinar, demorando mais tempo para realizar a micção;
- Esvaziamento incompleto da urina, levando a mais idas ao banheiro mais que o normal;
- Gotejamento ao terminar de urinar;
- Dor na região lombar e nos testículos;
- Inchaço nas pernas;
- Sangue na urina.
Em casos mais graves, quando o câncer começa a se espalhar para outras partes do corpo (metástase), podem aparecer sintomas de dores nos ossos (quadril, costelas e coluna), redução de apetite, fraqueza e até mesmo anemia. Contudo, como esses sintomas podem aparecer em outros casos, a procura de um médico é indispensável.
Prevenção
Em casos de histórico familiar de câncer na família, é importante ir ao urologista a partir dos 45 anos, segundo a recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). A prevenção pode ser realizada a partir de um exame de sangue com o antígeno prostático específico (PSA) e do toque retal para diagnosticar mais cedo e assim começar o tratamento de forma precoce.
O toque retal não causa impotência e não é vergonha alguma, deve ser visto como um exame feito em qualquer parte do corpo. O que pode causar a impotência é a cirurgia de remoção de próstata, em casos irreversíveis, já que vem a lesionar o nervo cavernoso e veias da região.
A manutenção de hábitos saudáveis - como alimentação equilibrada e variada, com a inserção de frutas, verduras e legumes, a prática regular de exercícios físicos, a diminuição de consumo de bebidas alcoólicas e do tabagismo, além de consulta regular ao médico podem contribuir com o prolongamento de uma vida saudável e sair do risco de câncer..
O tratamento
É realizado por um especialista em urologia, por meio do uso de diversas formas de tratamento, de acordo com a necessidade e estágios de cada paciente. O especialista pode recorrer à radioterapia para eliminar ou desacelerar o desenvolvimento das células cancerígenas (por feixes de radiação externa) ou por braquiterapia (implante radioativo dentro do câncer).
A quimioterapia é a aplicação de remédios por via oral, intravenosa, intramuscular , subcutânea ou intracraneal (pela espinha dorsal), como cisplatina e mitoxantrona. Assim, ao se misturar no sangue, são levados por toda parte do corpo, sendo mais indicado quando o câncer está espalhado em outras áreas além da próstata e como prevenção para que não ocorra essa metástase. Já a hormonioterapia é a utilização de remédios para cessar a produção de testosterona para que não se ligue às células doentes.
A prevenção é para além do mês azul
O cuidado com a saúde não deve se limitar apenas no mês de novembro. Os homens devem ir com regularidade ao urologista a partir dos 50 anos - ou em casos específicos, aos 45 anos -, atentar-se com casos em sua família e encaixar hábitos saudáveis na rotina. Não é vergonha realizar os exames e se prevenir contra o câncer de próstata. O câncer pode ser silencioso, mas sua voz precisa ser ouvida. A prevenção leva a uma vida mais longa e o tratamento pode trazer a cura.