Em 2 de novembro, é celebrado o Dia de Finados. No Brasil, esse feriado católico, apesar de ser um estado laico, foi estabelecido pela Lei nº 10.607 em 2002, a qual deu uma nova redação ao Art. 1º da Lei 662, de 6 de abril de 1949, declarando também feriados oficiais o Ano Novo (primeiro de janeiro), o Dia do Trabalho (primeiro de maio), o Dia da Independência (7 de setembro), a Proclamação da República (15 de novembro) e o Natal (25 de dezembro).
A data de Finados é marcada por homenagens aos entes queridos que já faleceram, preservando as suas memórias, como ir a cemitérios para colocar flores sobre os túmulos, visitas à igreja para acender velas a essas almas e até usar roupas escuras para respeitar o luto. Sentimentos de saudade são transformados em tributos e recordações nesse dia.
Origem da data
Na idade média, já no século I, havia registro de orações para os mortos quando era comum visitar os túmulos dos mártires. No século IV, também observa-se a atenção dada aos que já partiram, com as Confissões de Santo Agostinho, onde ele pede a Deus que interceda pela alma de sua mãe falecida (Santa Mônica). Em De Cura pro Mortuis Gerenda, publicado em 421, o teólogo aborda o culto em virtude dos mortos.
Neste último, Santo Agostinho também destaca a importância de ter um bom sentimento com os entes queridos que não estão mais aqui, refletido no ato de escolher um túmulo próximo aos santos, local que será um ponto de visita para preservar a memória dessas pessoas, ou seja, um motivo para que “continuem a se lembrar deles, para que não aconteça de, tendo sido retirados da presença dos vivos, também sejam retirados do coração pelo esquecimento”.
No século X, em 2 de novembro de 998 d.C, o abade Odilon de Cluny instituiu a todos os membros da abadia e aos seguidores da Ordem Beneditina que rezassem pelos mortos. Com isso, Odilon resgata a visão de mundo católica de que as almas passam por um purgatório, um lugar de transição, vivenciando um processo de purificação para chegar ao paraíso. Assim, seriam necessárias as orações dos vivos pedindo a intercessão da Virgem Maria, ou até de outros santos, para que elas alcancem os céus e finalizem as suas jornadas.
Já no século VII, a Igreja Católica, com o Papa Gregório III, estabeleceu, não por acaso, o dia primeiro de novembro, antecedendo o Dia de Finados, como o Dia de Todos os Santos, para lembrar dos santos em geral e dos mártires. A data marca a existência daqueles que tiveram uma vida santa, os fieis assim podem confessar e comungar, e, no Dia de Finados, terem a esperança de ressurreição e vida eterna, ao também entenderem que estão purificados por terem confessado seus pecados.
Mas foi somente no século XX que o Papa Bento XV permitiu que os sacerdotes celebrassem missas para os mortos. No Brasil, a data é oficial desde 2002 e as igrejas realizam missas para homenagear os finados.
Día de los Muertos
No México, a tradição do dia 2 de novembro é chamada de Dia dos Mortos (Día de los Muertos), data que é lembrada com muita alegria e cores vibrantes. Neste dia, segundo o costume, os mortos podem voltar à terra para visitar seus entes queridos. Também acredita-se que a forma que as pessoas lidam com a perda interfere na vida pós-morte dos que partiram. Em 2008, a celebração foi considerada pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
De cultura indígena pré-hispânica, o festejo do Día de los Muertos existe desde os tempos dos maias e astecas, realizado durante todo o mês de agosto. Porém, por volta de 1521, os colonizadores espanhois alteraram a data para o começo de novembro, para ficar mais próxima do Dia de Todos os Santos e do Dia de Finados.
Um dos símbolos dessa passagem é o altar de até sete níveis dedicado aos falecidos, contendo flores, fotografias, frutas, sal para purificação, pan de muerto (tradicionalmente feitos com raspas de anis, baunilha e laranja) oferecido como alimento e consagração. As caveiras de açúcar são doces no formato de caveira que costumam ser confeitados com uma diversidade de cores. Também faz parte do costume escrever o nome do falecido que recebe a oferenda na testa desta caveira, já que quem oferta uma caveira de açúcar, assegura seu lugar no paraíso.
Outros elementos que valem ser citados são os esqueletos com roupas e adereços, que irão recepcionar as almas dos mortos durante sua visita; flores decorativas, com destaque para a cempasúchil (cravo-de-defunto), com sua cor que representa o sol e guia as almas até seu destino final; e La Catrina, feita por José Guadalupe Posada, como um crítica à população mexicana ao renegar suas origens indígenas, representada por uma dama da alta sociedade, com trajes europeus. O Dia dos Mortos não é comemorado somente no dia 2 de novembro, se estendendo durante toda uma semana.
Celebração em outros países
Nos Estados Unidos, em data muito próxima, 31 de outubro, comemora-se o Halloween, uma tradição que se desenvolveu do Samhain, o fim do verão para o povo Celta. No ritual ocorria a despedida do deus sol Lugh e era comemorada a chegada do outono, significando o início de um novo ciclo e o fim de tudo que veio anteriormente. Além de fazer oferendas aos seus deuses, os celtas também usavam fantasias. Com o avanço do catolicismo, a festa pagã foi chamada de Véspera de Todos os Santos - All Hallow’s Eve, tornando-se o Halloween, ao longo do tempo.
No Haiti, existe um sincretismo religioso ao relacionar rituais católicos e do vodu. São realizadas oferendas aos mortos, toques de tambor e cânticos antigos ao mesmo tempo que realizam missas pela manhã e visitas aos cemitérios para também levar flores. Na Bolívia, o Dia de Finados é lembrado no dia 8 de novembro como Día de Las Natitas, ornamentado com flores no próprio crânio dos falecidos.
Apesar das diferenças culturais, o Dia de Finados é uma data voltada para lembrar as pessoas que não estão mais vivas, mas que suas memórias e as boas ações permanecem e são transmitidas por quem fica.