2024 marca primeiro ano de celebração do Dia Nacional da Consciência Negra como feriado nacional

Em 1971, um grupo de jovens negros se encontrou no centro de Porto Alegre, capital gaúcha, com o objetivo de estudar a história de seus ancestrais e refletir sobre o 13 de maio, data da abolição da escravatura. Decidiram, então, instituir o dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, como um marco de resistência e luta pela liberdade do povo negro. 

Após uma longa luta, o Dia da Consciência Negra foi incorporado ao calendário escolar em 2003, com a sanção pelo então presidente Lula da lei 10639, que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas, fortalecendo o reconhecimento da contribuição negra para a formação da sociedade brasileira. Alguns anos depois, em 2011, a ex-presidente Dilma Rousseff oficializou o 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra. Contudo, a data só era feriado em locais onde havia leis municipais ou estaduais com essa finalidade. Somente, em 2024, entretanto, pela primeira vez, o dia será celebrado como feriado nacional.

A data é dedicada de modo especial à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e sobre a influência do povo africano na formação cultural do país. Desde o Brasil colônia até a atualidade, a influência dos negros africanos foram muitas, sobretudo nos aspectos religiosos, políticos, sociais linguistico e gastronômicos: ao longo da história, as crenças, as danças, o vocabulário, a culinária, o folclore e tantas outras coisas, ajudaram a forjar a cultura nacional.

Buscando valorizar a cultura afro-brasileira, comemora-se essa data nas escolas, entidades, espaços culturais e em outros locais. Há ainda entidades que organizam eventos educativos, palestras e atividades culturais visando principalmente às crianças negras. De diversas formas, procura-se trabalhar a auto-estima e o senso de valorização pessoal, evitando o desenvolvimento do auto preconceito, que faz com que muitos se sintam inferiores perante a sociedade. Outros temas ganham evidência e são levados a debate, como a inserção do negro no mercado de trabalho, a questão das cotas universitárias, o preconceito racial e a questão da diferenciação salarial.

Mas qual é a situação dos negros no Brasil atualmente? Ainda é possível ver os reflexos da história de desigualdade e exploração da população negra. A maioria dos negros no Brasil pertence à classe média baixa. Eles sofrem com o racismo e com frequência são vítimas de humilhações de várias formas na sociedade.

Segundo pesquisas do IBGE (ano 2000) os afrodescendentes têm menos acesso à Previdência Social e consequentemente menor esperança de sobrevida no país, vivem em média 15 anos menos que os brancos. Em todo o país, a expectativa de vida dos negros de ambos os sexos é de 67,03 anos.

As famílias brancas têm a renumeração com o salário médio de 5,25/h e as famílias de negros 2,43/h, ou seja, os brancos ganham mais que o dobro do salário da família negra. Hoje o programa Bolsa Família é um dos principais responsáveis pela redução nas desigualdades sociais, sendo que 24% das famílias chefiadas por afrodescendentes (7,3 milhões) estão cadastradas no programa do governo federal.

A lei obriga que as escolas ensinem temas relativos à história dos povos africanos em seu currículo e, nas últimas décadas, houve muitos avanços na área da educação, com o declínio do analfabetismo e aumento da escolarização e da escolaridade média, mas há muito que ser feito para alcançar níveis melhores de qualidade, eficiência e rendimento do ensino compatível com as necessidades atuais e futuras para o mercado de trabalho e o exercício da cidadania para a população jovem negra. No ensino fundamental, a escolaridade dos brancos é de 6,7 anos e dos negros é de 4,5 anos, ou seja, os negros saem da escola antes do tempo para ajudar a família na renda familiar. No ensino superior, nem as cotas raciais fizeram crescer de forma significativa o acesso de negros e pardos às universidades brasileiras.

O Crea-RJ entende que há ainda muito que se fazer para oferecer aos afro-brasileiros pleno acesso aos seus direitos humanos fundamentais, à liberdade de expressão e à igualdade racial. Para que ocorram significativas mudanças é necessário um esforço em conjunto das esferas federais, estaduais e municipais, assim como dos movimentos sociais e da sociedade civil como um todo.

Fonte:  Rádio Senado e Portal Geledés

 

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