Entenda melhor o que são Mudanças Climáticas

 

As mudanças climáticas são transformações que ocorrem gradualmente no meio ambiente, principalmente nos aspectos do clima e da temperatura. Elas podem ter causas naturais como alterações na radiação solar e dos movimentos orbitais da terra, ou podem ser as consequências das ações humanas como desmatamento, poluição e emissão de gases de efeito estufa. 

A partir da Revolução Industrial, passou-se a emitir quantidades significativas de gases de efeito estufa (GEE), em especial o dióxido de carbono. Neste período, a concentração original de 280 ppm4 deste gás cresceu até os atuais 400 ppm5, intensificando significativamente o efeito estufa. Assim, as atividades humanas passaram a ter influência importante nas mudanças climáticas.

Com o aumento do efeito estufa, causado pela queima de combustíveis fósseis por parte da humanidade, a temperatura do planeta está subindo e a intensidade das mudanças climáticas tem acelerado de maneira não natural. De acordo com o serviço de mudanças climáticas Copernicus, as concentrações atmosféricas de CO2 em 2024 foram as maiores dos últimos dois milhões de anos. 

Em 2024, a mudança climática intensificou 26 dos 29 eventos de temperatura analisados pela Atribuição do Clima Mundial (WWA - World Weather Attribution), como secas intensas, escassez de água, incêndios severos, aumento do nível do mar, inundações, derretimento do gelo polar, tempestades catastróficas e declínio da biodiversidade. Esses eventos levaram a mais de 3 mil mortes e deixaram milhões de pessoas desabrigadas. 

O efeito estufa

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a superfície da Terra. Essa camada composta principalmente por gás carbônico (CO²), metano (CH4), N²O (óxido nitroso) e vapor d’água, é um fenômeno natural fundamental para manutenção da vida na Terra, pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio, inviabilizando a sobrevivência de diversas espécies.

Parte da radiação solar que chega ao planeta é refletida e retorna diretamente para o espaço, outra parte é absorvida pelos oceanos e pela superfície terrestre e uma parte é retida por esta camada de gases que causa o chamado efeito estufa. Porém, muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa (GEEs),e essa camada tem ficado cada vez mais espessa, retendo mais calor na Terra, aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global.

Segundo a OMM - Organização Meteorológica Mundial, o ano de 2024 foi o mais quente da história. Neste período, a temperatura média da Terra registrou um aumento de 1,55°C em relação à média entre 1850 e 1900. Apesar de parecer uma mudança pequena, esse índice acarreta uma maior frequência de fenômenos naturais extremos, além de torná-los cada vez mais destrutivos.

Enchentes

Uma atmosfera mais quente pode reter mais vapor de água, levando a chuvas mais fortes. A relação Clausius Clapeyron indica que a 1,3°C de temperatura global, a atmosfera pode reter cerca de 9% mais umidade. Além disso, o aquecimento dos oceanos também contribui para chuvas fortes, pois a água mais quente leva ao aumento da evaporação.

De acordo com estudos da Atribuição do Clima Mundial (WWA), de 16 eventos de inundação, 15 foram relacionados aos efeitos das mudanças climáticas. No Afeganistão, no Paquistão e nas enchentes do Irã, esses estudos foram inconclusivos devido ao mau clima e ao desempenho do modelo. Esses resultados são o reflexo das mudanças esperadas associadas ao contínuo aquecimento global.

Manter e atualizar as defesas contra inundações é essencial à medida que o clima esquenta. Em 2023, o rompimento de barragens na Líbia, após fortes chuvas, resultou em inundações que mataram mais de 12.000 pessoas. Em 2024, uma barragem colapsou no Sudão e levou a inundações que mataram dezenas de pessoas e no Brasil a precipitação extrema levou as defesas contra inundações ficarem sobrecarregadas, o que amplificou os impactos. O desafio do envelhecimento das defesas contra inundações não é apenas enfrentado pelos países em desenvolvimento. Nos EUA, mais de 20% das barragens, com idade média superior a 60 anos, são classificados em más condições. 

Impacto nos oceanos 

Os oceanos também têm sofrido com o calor. A Copernicus indica que a temperatura do mar no segundo semestre de 2024, foi a segunda mais quente já registrada. Um dos grandes problemas gerados pelo calor nos oceanos é o derretimento das geleiras. Em pesquisa realizada pela Universidade do Colorado Boulder, em 2024, foi observado que a extensão do gelo marinho antártico atingiu uma redução histórica de 200 mil km². 

O oceano absorve cerca de um quarto das emissões anuais de CO2. A interação do dióxido de carbono com a água do mar altera a química do carbonato resultando na redução do pH. Esse processo é conhecido como acidificação. De acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), o pH da superfície do oceano aberto é o mais baixo dos últimos 26 mil anos.

O aumento do nível do mar por registros de satélites atingiu o máximo histórico e, nos últimos dez anos, é mais que o dobro comparado ao início dos registros em 1993. O aquecimento contínuo e o derretimento de glaciares e camadas de gelo estão entre os fatores que contribuíram. A Unesco relata que, devido ao degelo acelerado, o nível do mar subiu 9 centímetros nos últimos 30 anos, duplicando o ritmo médio de elevação dos anos anteriores.

As consequências desses dados à biodiversidade marinha são catastróficas. De acordo com artigo publicado na revista Science, caso o cenário não melhore até o ano 2300, a vida nos oceanos enfrentará uma extinção em massa. A acidificação coloca em risco os recifes de coral, já que abala a fixação de carbonato de cálcio em conchas, ouriços do mar, entre outras espécies. E também com a redução de oxigênio nos mares leva a um crescimento da produção de óxido nitroso, o que agrava ainda mais o efeito estufa. 

O impacto do aquecimento dos oceanos também pôde ser visto na tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, em 2024. Cientistas integrantes da WWA, concluíram que as condições das águas do Pacífico multiplicaram em três vezes as chances de chuva na região, além de aumentarem a intensidade em 7%.

Desmatamento e Seca

O desmatamento é outro importante fator que contribui com o aquecimento global, já que as florestas são responsáveis por reduzir o CO2 presente na atmosfera. O Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, contabilizou entre janeiro e agosto de 2024, um aumento de 78% de queimadas no Brasil em relação ao mesmo período de 2023. Esse contexto leva à degradação de terras e florestas, o que libera ainda mais dióxido de carbono. Aterros para lixo são uma das principais fontes de emissões de metano. Energia, indústria, transporte, edificações, agricultura e uso da terra estão entre os principais emissores.

E uma das consequências do desmatamento é o desenvolvimento de áreas secas de forma mais intensa ao longo dos anos. Em 2024, as secas afetaram todos os continentes, com impactos significativos nos recursos hídricos, na agricultura, ecossistemas e comunidades vulneráveis. A agricultura é o primeiro setor a ser atingido durante as secas, ainda mais com os pequenos agricultores, o que leva à escassez de alimentos e crises humanitárias. 

A capacidade de retenção de água da atmosfera e as circulações oceânicas e aéreas que impulsionam os sistemas de chuva, estão mudando à medida que o clima aquece. Isto significa que os riscos de secas e inundações aumentam em diferentes tempos e lugares. A elevação das temperaturas piora as secas, aumentando a perda de água nos solos através da evaporação e transpiração das plantas. 

O calor prolongado intensificou a devastadora seca na Bacia do Rio Amazonas. A Amazônia é uma das maiores florestas tropicais do mundo e a mais importante em absorver o carbono terrestre, sendo importante para a estabilidade do clima global. Assim, as secas podem ser devastadoras para estas florestas tropicais que não resistem a períodos de baixa pluviosidade e altas temperaturas. E com isso pode se desencadear a liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, acelerando o processo do aquecimento global. 

Medidas contra as mudanças climáticas 

Combater o aumento da temperatura global é fundamental para frear a ocorrência de desastres naturais. Este é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13 - Ação contra a Mudança Global do Clima - da Agenda 2030 da ONU. No mesmo sentido, 195 países aprovaram o Acordo de Paris, um compromisso com o objetivo de reunir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Na prática, a meta é reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa até 2030.

Diminuir o desmatamento, investir no reflorestamento e na conservação de áreas naturais, incentivar o uso de energias renováveis (solar, eólica, biomassa e hidrelétricas), preferir utilizar biocombustíveis (etanol, biodiesel) a combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel), são algumas das possibilidades para reverter essas mudanças prejudiciais à vida. 

Além disso, é possível investir na redução do consumo de energia e na eficiência energética, reduzir, reaproveitar e reciclar materiais, investir em tecnologias de baixo carbono, melhorar o transporte público com baixa emissão de GEE. Estas e outras medidas podem ser estabelecidas através de políticas nacionais e internacionais de clima.

Os profissionais das áreas da Engenharia, Agronomia e Geociências, são fundamentais na luta contra as causas e os impactos das mudanças climáticas na sociedade, mitigando os danos das catástrofes e contribuindo para a construção de um mundo mais sustentável. 

Agenda 2030 da ONU e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU

A Agenda 2030 da ONU é um plano de ação global que reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas com foco na erradicação da pobreza e na promoção de uma vida digna a todos. Tudo isso sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações.

Os 17 ODS são:

  1. Erradicação da Pobreza
  2. Fome Zero e Agricultura Sustentável
  3. Saúde e Bem Estar
  4. Educação de Qualidade
  5. Igualdade de Gênero
  6. Água Potável e Saneamento
  7. Energia Acessível e Limpa
  8. Trabalho Decente e Crescimento Econômico
  9. Indústria, Inovação e Infraestrutura
  10. Redução das Desigualdades
  11. Cidades e Comunidades Sustentáveis
  12. Consumo e Produção Responsáveis
  13.  Ação contra a Mudança Global do Clima
  14.  Vida na Água
  15. Vida Terrestre
  16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes
  17. Parcerias e Meios de Implementação

O embrião da ideia de transformação planetária nasceu na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que ficou conhecida como Rio 92. O evento reuniu mais de 100 chefes de Estado na cidade do Rio de Janeiro, em 1992, para discutir como garantir às gerações futuras o direito ao desenvolvimento. 

Vinte anos depois, 193 delegações voltaram à cidade do Rio de Janeiro para renovar o compromisso global com o desenvolvimento sustentável. Assim, foram lançadas as bases para a Agenda 2030.

O documento “Transformando Nosso Mundo”, adotado na Assembleia Geral da ONU, em 2015, foi criado coletivamente em busca de se encontrar um caminho mais sustentável e resiliente até 2030. Sigamos nesta jornada coletiva.

Os 17 Objetivos são integrados e indivisíveis, e mesclam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. São como uma lista de tarefas a serem cumpridas pelos governos, a sociedade civil, o setor privado e todos cidadãos na jornada coletiva para um 2030 sustentável. Nos próximos anos de implementação da Agenda 2030, os ODS e suas metas irão estimular e apoiar ações em áreas de importância crucial para a humanidade: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias.

Confira o vídeo

Ao combinar os processos dos Objetivos do Milênio e os processos resultantes da Rio+20, a Agenda 2030 e os ODS inauguram uma nova fase para o desenvolvimento dos países, que busca integrar por completo todos os componentes do desenvolvimento sustentável e engajar todos os países na construção do futuro que queremos.

O Crea-RJ, por meio dos profissionais da Engenharia, Agronomia e Geociências, segue comprometido com a prática profissional exercida de forma ética para que sejam alcançados os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.