Engenheiro abolicionista que modernizou o abastecimento de água no Rio ganha exposição na Biblioteca Nacional

André Rebouças. Reprodução Internet

O engenheiro André Rebouças (1838-1898) foi fundamental na modernização do abastecimento de água no Rio de Janeiro durante o Império. No século XIX, a cidade enfrentava sérios problemas de abastecimento, especialmente com o crescimento populacional e a precariedade dos antigos sistemas de distribuição.

Até então, o abastecimento da cidade dependia do Aqueduto da Carioca, construído no período colonial, e de chafarizes públicos. No entanto, com a urbanização e o aumento da população, esse sistema tornou-se insuficiente, resultando em falta d’água e proliferação de doenças, como febre amarela e cólera.

Como engenheiro militar e especialista em infraestrutura, André Rebouças propôs e coordenou a construção de um novo sistema de captação e distribuição de água para o Rio de Janeiro. Sua principal contribuição foi a Adução do Rio do Carioca, um projeto de engenharia avançado para a época, que melhorou a captação, transporte e distribuição da água potável.

Além disso, Rebouças projetou e implementou um sistema de canalização subterrânea, garantindo que a água chegasse a diferentes bairros de forma mais eficiente. Ele também defendeu a proteção das nascentes e cursos d’água para evitar a contaminação.

Graças ao seu trabalho, o abastecimento de água na capital imperial foi significativamente ampliado, reduzindo as crises hídricas e melhorando as condições sanitárias da cidade. André Rebouças não só deixou sua marca na infraestrutura urbana, mas também se destacou como abolicionista e defensor do progresso social.

Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

Por tudo isso, André Rebouças foi incluído, em outubro do ano passado, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, localizado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. A inclusão foi feita por projeto de lei sancionado pelo presidente Lula. Criado em 1992, o livro reúne protagonistas da liberdade e da democracia, que dedicaram suas vidas ao país em algum momento da história.

A inclusão do nome do engenheiro no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é também um reconhecimento da luta negra contra a escravidão. André Rebouças foi um dos primeiros engenheiros negros do país. Formado em engenharia militar em 1861, pela Escola Militar da Praia Vermelha, André foi um dos pioneiros da engenharia no país e contribuiu significativamente para projetos de modernização, como a construção de estradas de ferro, pontes e sistemas de abastecimento de água. Sua habilidade técnica e visão progressista o tornaram uma figura influente na corte imperial, onde foi consultor do imperador Dom Pedro II. 

Carta assinada pelo engenheiro André Rebouças. Acervo Técnico da Biblioteca Nacional

Exposição na Biblioteca Nacional

O vulto histórico agora ganha uma exposição de documentos históricos sobre sua trajetória, aberta na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. A exposição pode ser visitada até o final de março, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, na Divisão de Manuscritos. A entrada é franca.

Ana Lúcia Merege, bibliotecária da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional e uma das curadoras da exposição, destaca o que é possível aprender sobre Rebouças visitando a mostra.

Engenheiro e abolicionista André Rebouças ganha exposição na Biblioteca Nacional

“O que a gente aprende sobre André Rebouças é que ele foi, sim, um dos nossos maiores abolicionistas, mas ele também teve outras áreas de atuação nas quais ele obteve grande destaque, e isso é pouco conhecido do grande público”, afirma Ana Lúcia, acrescentando a importância do engenheiro para a história do Brasil.

“É uma pessoa sobre a qual é muito interessante conhecer mais. Ele foi um visionário, além do seu tempo, com essas ideias. É uma pessoa que nós temos muito orgulho de ter um acervo do Rebouças e poder disponibilizar para o nosso público”, explica Ana Lúcia.

Nascido na Bahia, em 1838, André Rebouças foi responsável por grandes projetos como a ferrovia Curitiba-Paranaguá e a construção original do Armazém Docas Dom Pedro II, onde foi instalado o antigo Cais do Valongo.

Ao lado de José do Patrocínio e Joaquim Nabuco, Rebouças foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, criada em 1880. Também participou da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora.

Engenheiro abolicionista que modernizou o abastecimento de água no Rio ganha exposição na Biblioteca Nacional